sábado, 31 de julho de 2010

Encontros do Trigo-A fazer Bolo de Noiva ou Bolo Vilão


Hoje fez-se o Bolo de Noiva ou Bolo Vilão.  O Bolo de Noiva é feito com farinha de trigo, água morna temperada com sal e açúcar, frutas e frutos secos sendo trabalhado até se transformar numa massa homogénea. Esta massa e depois dividida em pequenos bolos e vai depois a cozer num forno a lenha.




sexta-feira, 30 de julho de 2010

Encontros do Trigo - A fazer o cuscuz

Hoje fez-se o cuscuz. O cuscuz é feito com farinha de trigo, água morna temperada com sal e ramos de segurelha sendo trabalhada até se transformar numa massa granulada.  Esta massa vai depoisa cozer  a vapor num cuscuseiro, uma panela de barro semicircular. Depois de cozido é posto a secar e é guardado. Depois de cozinhado, serve de acompanhamento a muitos prato, normalmente como substituto de arroz.




















terça-feira, 27 de julho de 2010

Pratos elaborados com Trigo

Cuscuz com Vegetais
Ingredientes (para 4 pessoas):
 1 Chávena de cuscuz
2 cenouras médias
1 courgete
1 beringela pequena
200g de raminhos de brócolos
150g de cogumelos frescos
½ pimento vermelho
½ pimento verde
1 cebola grande
4 dentes de alho picados
1 raminho de coentros
2 colheres de sopa de azeite
sal q.b
Trigo com ervilhas e cenoura
Ingredientes:
4 colheres de sopa de azeite
1 cebola média picada
1 chávena de ervilhas
1 chávena de grãos de trigo demolhados
1 cenoura
sal integral q.b
água q.b.


Pão Essénio
Ingredientes:
2 chávenas de trigo germinado (8 horas de molho e 24 horas a germinar)
1 cl de sopa de azeite orgânico prensado a frio
1 pitada de sal integral
ervas aromáticas frescas q.b
1 chávena de água

Trigo simples
Ingredientes:
2 chávena de trigo
salsa fresca q.b.
½ cebola média picada
azeite extra-virgem q.b.
1 cabeça de nabo
½ chávena de soja texturizada fina demolhada
água quente q.b.
sal integral q.b.
Sopa de gérmen de trigo e vegetais
Ingredientes:
2 chávenas de gérmen de trigo
2 cebolas
azeite ou óleo q.b
molho de soja q.b
legumes a gosto

Quibe vegetariano
Ingredientes:
1 chávenas de trigo para quibe
1 chávenas de soja fina
1/2 chávena de cebola bem picada
5 dentes de alho picados
½  chávena de folhas de hortelã
½ chávena de salsa picada
½ chávena de farinha de trigo
5 colheres de azeite
sal q.b
pimenta q.b

Salada de Trigo Cru
Ingredientes
500 grs de trigo cru
-2 cebolas grande
-2 tomates grandes
-300 gramas de uva passas
-1 maço de hortela fresco
-1 maço de salsa fresca
-1 vidro de azeitonas sem caroço ja cortatas
-2 pepinos japones
-1 pimentão amarelo
-1 pimentaõ verde
-1 pimentão vermelho
orégano,pimenta do reino branca ,azeite ,1limão ou vinagre,sal..
Você pode colocar erva-doce crua, maçã verde picadinha tudo que seja crocante.
Modo de Preparação
Coloque o trigo de molho em agua morna e deixe descançar ate dobrar o volume ,ele terá uma destura macia.
Os pimentões, cebola, pipinos, tomates e deverá de ser cortados bem pequenos de forma bem delicada que na hora de comer não tenha como separar eles do trigo. Numa bacia coloque o trigo ja escorido ,todos os ingredientes que ja foi cortados , passas inteiras,azeitonas,salsa picadinha, hortelã picadinho tempere bem com azeite, sal, orégano, limão, pimenta do reino branca.

Sopa de Trigo
Ingredientes:
150 g de trigo
300 g de carne de porco salgada
100 g de feijão
100 g de batata
200 g de semilhas
100 g de pimpinela
3 cebolas
200 g de abóbora amarela
1 ramo de segurelha
2 pimentas

Modo de Preparação
De véspera, demolhe separadamente o feijão, a carne e o trigo. No outro dia, coloque numa panela 3 litros de água, juntamente com a carne, o feijão e o trigo.
Leve ao lume e deixe ferver por 30 minutos.
Passado esse tempo adicione a cebola, a pimenta e a segurelha e deixe cozer por mais 10 minutos.
Acrescente os restantes ingredientes e deixe cozer por mais 35 minutos.
Por fim, rectifique os temperos e apague o lume. Deixe repousar por 30 minutos e sirva de seguida

Sopa de Trigo e Feijão
Ingredientes:
4 mãos-cheias de trigo
4 mãos-cheias de feijão vermelho
1/2 kg de ossos das costelas de porco
300 g de carne entremeada
2 batatas-doces médias
3 batatas médias
350 g de abóbora
sal
Preparação:
Com umas horas de antecedência, ou de véspera, ponha de molho o trigo e o feijão bem cobertos de água fria.
Mude a água e ponha a cozer em lume brando, juntamente com os ossos e a carne, durante cerca de 45 minutos.
Adicione então as batatas-doces descascadas e inteiras e as batatas comuns, também descascadas e cortadas em cubos pequenos, e a abóbora em pequenas falhas.
Tempere com sal e acabe de cozinhar até obter um caldo grosso e bem apurado.
Retire os ossos e a carne.
Corte esta em pedacinhos e deite na sopa.














sábado, 24 de julho de 2010

O nosso projecto


Nos últimos anos e no âmbito dos anteriores projectos Germobanco Agrícola da Madeira, os sócios Universidade da Madeira e Associação de Agricultores da Madeira procederam a recolhas, caracterização e identificação de variedades de espécies agrícolas da Região, entre as quais, variedades de trigo.
Através de sementes e de outros porpágulos agrícolas recolhidos e devidamente limpos de impurezas, pragas e doenças, constituíram-se diferentes colecções de germoplasma agrícola.
Estas colecções do Germobanco, integram-se no Isoplexis banco de Germoplasma (inserido no Centro de Estudos da Macaronésia da Universidade da Madeira.
O objectivo destas colecções é o de promover biodiversidade agrícola regional, conservando e recuperando espécies agrícolas (muitas vezes quase em extinção) e de estudar com fins a promover ou melhorar algumas plantas ainda pouco exploradas.
Entre vários estudos e publicações resultantes do Projecto Germobanco destacam-se os cartazes “Biodiversidade de Trigos da Madeira” e podemos encontra-los em exposição na Fajã –da-Ovelha, em alguns cafés/bares da freguesia (ponto de encontro de muitos agricultores) com destaque de algumas variedades de trigo recolhidas no concelho da Calheta.
Todo este trabalho de investigação só tem vindo a ser possível graças ao contributo dos agricultores, com a cedência de amostras de sementes e dos seus testemunhos de sabedoria popular acerca das potencialidades de algumas variedades hoje pouco usadas pelos nossos agricultores.
Conservar semente é mantê-las com viabilidade, com capacidade de germinarem. Muitas colecções precisam de ser multiplicadas, ou porque têm amostras reduzidas ou por já terem um determinado número de anos, ou porque é preciso material para mais estudos.
Há semelhança dos anos anteriores, mas actualmente no âmbito do projecto Agricomac, a Associação de Agricultores da Madeira (A.A.M), estabeleceu um protocolo de cooperação com cerca de 2 dezenas de agricultores, a grande maioria da Fajã-da -Ovelha. De acordo com o protocolo estabelecido a A.A.M. cedeu aos agricultores uma determinada quantidade de trigo de variedades regionais regionais, juntamente com algumas recomendações técnicas.
Os agricultores têm aqui o papel de multiplicadores. Foi acordada a entrega (no mínimo) do dobro da quantidade de sementes recebida na colheita seguinte para ser entregue novamente para as colecções do banco de germoplasma.
Destaque-se a participação e o papel de motivação dos agricultores e de locais por parte da Casa do Povo da freguesia da Fajã da Ovelha.
O sucesso desta colaboração foi provado há cerca de um ano atrás, quando a Associação de Agricultores da Madeira foi contactada pela Associação de Desenvolvimento Integrado “Terras Dentro”, através do portal Sistema de Informação Rural, para uma participação na Feira Anual de Cuba, Alentejo, no âmbito da Exposição “O nosso pão”.
Foram imediatamente contactadas por toda a ilha diferentes padarias com fabrico de pão e doçaria tradicional e particulares por todos os concelhos do Arquipélago da Madeira, convidando-os à exposição do Produto Regional juntamente com a padaria tradicional alentejana, transmontana e brasileira. Representou-se um pouquinho da Madeira com algum sucesso à mistura!
Houve grandes contributos e apoios, muitos dos quais a Associação de Agricultores da Madeira manifesta ainda a maior gratidão. A Terras de Dentro comparticipou todas as despesas, com a aquisição de pães, de farinhas e outros ingredientes para o fabrico de pão, contando ainda os preços especiais e ofertas dos muitos apoiantes desta exposição.
Realçamos novamente o bom trabalho da Casa do Povo da Fajã da Ovelha ao juntar colaboradoras que fizeram diferentes pães para exposição. Assistiu-se ao processo de fabrico e registou-se através de fotografia e vídeo uma série de momentos únicos de viva tradição.
Com toda esta colaboração bem sucedida decidiu-se então promover em 2010 o primeiro evento “Encontros do Trigo”, sendo este Blog uma semente para multiplicar!

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Programa "Encontros do Trigo"

PROGRAMA: *

Segund-feira - dia 26/07/2010

8:H00 Ceifas ao vivo- Raposeira, Maloeira, Lombada dos Marinheiros, Lombada dos Cedros

9:H00 Debulhas -Raposeira do Lugarinho

Terça-feira - dia 27/07/2010

8:H00 Ceifas ao vivo-Raposeira, Maloeira, Lombada dos Marinheiros, Lombada dos Cedros

9:H00 Debulhas Raposeira do Lugarinho e na Maloeira

Quarta-feira - dia 28/07/2010

8:H00 Ceifas ao vivo- Lombada dos Cedros, São Lourenço, Lombada dos Marinheiros

9:H00 Debulhas- Lombada dos Cedros

Quinta-feira - dia 29/07/2010

Ceifas

Debulhas

Sexta-feira - dia 30/07/2010

19:H00 Exposição

Sábado dia 31/07/2010

11:H00Debulha ao vivo junto a Igreja da Raposeira

14:H00 Fabrico e venda de pão, bolos e cuscuz

19:H00 Animação Musical

Domingo dia 01/08/2010

14:H00 Exposição de imagens

14:H00 Fabrico e venda de pão, bolos e cuscuz

15:H00 Cortejo

16:H00Degustação de sopa de trigo.

18:H00 Animação Musical

*O programa está sujeito a alterações.
Organização:
Casa do Povo da Fajã da Ovelha
Projecto Agricomac/ Germobanco Agrícola da Madeira (Associação de Agricultores da Madeira+ Universidade da Madeira)

terça-feira, 20 de julho de 2010

A história do trigo no Arquipélago da Madeira



Embora cultivado desde tempos pré-históricos, não se conhece a verdadeira origem deste cereal, supondo-se ser o resultado de cruzamentos naturais que foram ocorrendo entre diversas espécies espontâneas afins que se encontram ou encontravam na Europa, na Região Mediterrânea e no sudoeste asiático. Diz-se que há 8000 anos a. C. o trigo já se cultivava no Curdistão e vários trabalhos referem a cultura do trigo como já existindo há 4000 anos a. C. na Europa e que há 3000 anos a. C. o trigo já era cultivado na maior parte da Europa.

O cultivo do trigo no arquipélago da Madeira é tão antigo como o do seu povoamento. Dizem muitos historiadores que a principal razão para povoar as ilhas inabitadas da Madeira e dos Açores foi a de encontrar terrenos onde semear o pão de que havia carência no País.

Magalhães Godinho (in “Os descobrimentos e a Economia Mundial”, 1965) diz o seguinte: “Um conjunto de vectores, definidos pelo pão e pela carne, pelo açúcar, pelo vinho e pelas cores de tinturaria, comanda a instalação dos Portugueses nos arquipélagos atlânticos”; e, baseando-se em Diogo Gomes, acrescenta: “Talvez, em 1420, Gonçalves e Tristão deixaram Porto Santo para se irem instalar na Madeira…Começaram logo os colonos levados pelos dois escudeiros a desbravar e a semear campos de cereais. O mesmo caminho tinha sido seguido dois anos antes em Porto Santo. O povoamento está….ligado, estreitamente, desde o início, não só ao pastoreio mas também à cerealicultura…as sementeiras alastraram e as colheitas foram “mui abastosas”: por cada medida semeada colhiam-se 50 e mais…A produção de trigo atingiu tal volume que todos os anos os navios do reino aqui vinham carregar baratíssimo.”

Mas as grandes produções de trigo na Madeira foram posteriormente diminuindo, não só pela menor produtividade que se foi verificando nos terrenos, como pelo decréscimo de superfície agrícola ocupada por este cereal e pela preferência dos agricultores por outras culturas que se mostravam mais lucrativas, como a cana de- açúcar e a vinha. De exportadora, a Ilha passou, cerca do último quartel do século XV, a importadora de trigo, o qual provinha não só, e em maior parte, dos Açores mas também da Europa, do norte de África e das Canárias. A população do Arquipélago aumentava e eram necessárias grandes quantidades de cereais para o fabrico do pão, fundamental, também, para a alimentação das gentes insulares. E nunca mais o arquipélago madeirense se bastou a si próprio em matéria de trigo.

No entanto, este cereal continuou a ser cultivado na Madeira e no Porto Santo embora, como se sabe, as suas produções só 2 satisfizessem os consumos de poucos meses do ano. Documentos antigos referem que, em meados do século XVII, as colheitas de trigo no Arquipélago só cobriam as necessidades de metade do ano. No entanto, assinale-se que, em Porto Santo, em meados do século XIX (1852 e 1854), conforme se lê nos “Anais do Município do Porto Santo”, publicados pela Câmara Municipal respectiva, em 1989, a produção de trigo era, aproximadamente, de 170 moios equivalentes a cerca de 140 t, muito significativa para aquela Ilha.

Em meados do primeiro quartel do século XX, a produção de trigo, de acordo com elementos referidos no “Elucidário Madeirense”, era em todo o Arquipélago de 2500 t anuais, numa superfície territorial ocupada de cerca de 2000 hectares e importava-se aproximadamente 7000 t; quer dizer, a produção regional de um ano era de pouco mais da quarta parte do trigo necessário ao consumo ou seja satisfazia as necessidades de, apenas, cerca de 3 meses. Em 1953, Corrêa Rodrigues (in “Questões Económicas”) estimava a produção média, anual, de trigo em cerca de 900 t (que se nos afigura muito baixa), sendo a importação de 17000 t, o que equivalia sensivelmente a 5% do total consumido, isto é, as colheitas madeirenses já nem chegavam para 20 dias de consumo. Nalguns trabalhos da época sobre o Arquipélago, apontam-se porém estimativas para a produção regional de trigo de maior valor mas tal não contraria o que vimos dizendo em termos gerais.

De acordo com o “Recenseamento Geral da Agricultura”, de 1999, o trigo continuava presente em todos os concelhos do Arquipélago, ocupando cerca de 52,6 hectares repartidos por 340 explorações.

Essa superfície produziria, em anos com condições climatéricas satisfatórias, cerca de 80 t. Os concelhos mais representativos eram então, e naturalmente continuam a ser, Calheta, Santana, Porto Moniz e Porto Santo, seguidos por Ribeira Brava, Machico, Santa Cruz e Ponta do Sol. Todavia, há 40 anos, em 1965, conforme se vê no “Recenseamento das Explorações Agrícolas das Ilhas Adjacentes”, ainda cerca de 15000 explorações (de pouco mais de 27100 recenseadas), distribuídas pelos 11 concelhos do Arquipélago, tinham declarado cultivar trigo. Embora vivendo sobretudo nos terrenos das zonas mais altas ou da média altitude, a cultura deste cereal, nessa época, podia observar-se desde o litoral até acima da cota dos 700 m.

Hoje, a superfície ocupada e a produção total são menores e o trigo regional serve apenas a alguma população rural, sobretudo para a confecção da afamada sopa-de-trigo e dos tradicionais cuscuz, para o fabrico do pão-de-casa ou pão-de-trigo-da-terra e para o do “bolo do- caco”, bastante mais saborosos do que os feitos com cereal importado. Talvez, nem cerca de 50 t sejam produzidas anualmente em todo o Arquipélago, o qual importa, por ano, aproximadamente 325000 t; isto significa que, agora, a produção local nem cobre as necessidades de um só dia de toda a população madeirense. Registe-se que, do trigo importado, a maior parte destina-se à panificação e menos de 1/3 ao fabrico de massas alimentícias e bolachas.

Pelos condicionalismos orográficos, sobretudo da ilha da Madeira, e pela estrutura fundiária da propriedade agrícola, e, também, pelas incertezas de ordem climatérica, conclui-se que, de facto, nos nossos dias, a cultura do trigo, face aos progressos da motomecanização que se têm mundialmente verificado, não é apropriada a este pequeno Arquipélago, não podendo proporcionar ao agricultor a devida compensação a todo o seu labor. Atendendo à necessidade de muita mão-de-obra durante o ciclo de vida do trigo, por não poder ser substituída adequadamente pelas máquinas que executam rápidas e perfeitas lavouras, gradagens, sementeiras, ceifas, debulhas e ensacagens ou eficazes tratamentos fitossanitários, e outros trabalhos referentes ao enfardamento das próprias palhas, usadas na pecuária, e considerando o custo actual do dia de trabalho de um assalariado agrícola, facilmente se conclui que o custo de produção do trigo na Madeira é extraordinariamente superior ao preço unitário deste cereal na grande maioria do imenso território em que é cultivado, especialmente nos países que o comercializam mundialmente. Não há, por isso, qualquer possibilidade de o Arquipélago competir com outras regiões, quanto a preços de mercado do trigo.

O trigo é, todavia, planta a manter localmente (embora em escala reduzida) pelas finalidades que o próprio agricultor e o mercado têm vindo a encontrar, nomeadamente as anteriormente referidas, que são o fabrico de produtos característicos regionais, como os cuscuz e o “bolo-do-caco” e os diferentes tipos de pão-de-casa (às vezes em mistura com centeio ou batata-doce), muito procurados até por turistas.

Acrescente-se a estas e outras utilizações na alimentação, o uso generalizado da palha de trigo na cobertura das casas de colmo, peculiares dalgumas zonas da Madeira e tão marcantes na paisagem rural. Antigamente, também se usava a palha de trigo como forragem e cama de gado (hoje substituída por “fenos” importados) e no fabrico de chapéus (na ilha do Porto Santo) e outros artigos ou objectos.

No que se refere propriamente ao cultivo do trigo, pode-se afirmar que, na maior parte dos amanhos culturais, se repetem ainda hoje as mesmas práticas que, no Arquipélago, eram correntes nos tempos do povoamento ou há muitos anos atrás. Curiosas, embora não exclusivas das ilhas, nem do País, são essas práticas e os utensílios, instrumentos e máquinas com que eram concretizadas e que fazem  parte do património agrícola e etnográfico da Madeira e do Porto Santo.

As cavas e a preparação dos terrenos destinados às searas fazem-se, quase sempre, com enxadas e a braço. O arado (de grande simplicidade) é pouco ou nada usado e, mesmo nos locais mais planos, onde é menos raro (como em Porto Santo e na zona ocidental da Madeira), tornou-se, praticamente, peça de museu. Raríssimas são também as charruas e os que as possuem não são os cultivadores de cereais que, no entanto, podem recorrer ao aluguer de máquinas dos departamentos oficiais, quando há disponibilidade das poucas que os serviços competentes possuem.

Os agricultores fertilizam os terrenos para as searas mas normalmente só com estrumações ou adubações verdes. A sementeira, a lanço, é também feita à mão e ocorre sempre desde fins de Outono até aos começos de Março, conforme os locais e as condições climatéricas do ano.

Pouquíssimas vezes se fazem mondas nas searas e ainda é mais excepcional o uso de herbicidas.

Quando as espigas estão maduras (o que depende em parte do tempo que faz) as plantas são arrancadas à mão, se se pretende aproveitá-las para a cobertura de casas, cabanas ou “palheiros” (estábulos), ou ceifadas junto ao solo com foices, quando não se quer aproveitar o restolho. A debulha é que deixou há muito de ser feita nas eiras (com excepção do Porto Santo onde, até há poucos anos, eram utilizadas algumas das muitas que lá existiram) para ser realizada por debulhadoras (de pequeno porte, para serem facilmente transportadas por caminhos por vezes bem difíceis e porque as produções são pequenas e dispersas), máquinas a que os agricultores dão o nome simples de “ferro”. Quando a debulha era (ou, como se disse, ainda pode ser) realizada na eira podia usar-se um dos 2 seguintes métodos: depois das plantas serem convenientemente espalhadas nesse recinto eram, com as respectivas espigas, calcadas por alguns (3 ou 4) bovinos, a que se atrelava um trilho (uma curiosa peça formada por uma pesada prancha de madeira dura na qual se cravavam, na parte inferior, muitas pedras angulosas e duras) e sobre o qual se colocava o trabalhador que conduzia os animais; ou as espigas eram batidas por manguais (malhos a que na Madeira, se chamam também mangais) que tinham o mesmo efeito de separar o grão da parte restante da espiga.

Depois de debulha, o procedimento seguinte é a limpeza do grão, para o que se usa a tarara (também conhecida por ventoínha) ou, frequentemente, se vai atirando ao ar em pazadas para o separar da moinha.
O cereal é depois ensacado e armazenado, ou arrecadado em caixas de madeira (arcas). Antigamente, no Porto Santo, os cereais (e outros géneros alimentícios) também podiam ser guardados em “matamorras”, que não são mais que furnas ou grandes covas subterrâneas, abertas em rochas brandas ou solos secos e duros (por vezes junto às casas de habitação), com a cobertura ou abertura disfarçada e onde ficavam preservados em boas condições, e defendidos dos ataques imprevisíveis dos piratas. Hoje, ainda existem “matamorras” no Porto Santo, mas já não com essa finalidade.

As palhas, após a debulha, eram guardadas em molhos para alimentarem o gado ou para as respectivas camas.

Para a moenda do trigo, que se segue à debulha, diversa é também a aparelhagem utilizada no Arquipélago. São vários os moinhos, desde os primitivos, manuais, aos mais recentes (movidos a água, pelo vento ou pelos animais). Todos têm ainda alguma representatividade embora nem todos sejam hoje utilizados. Os moinhos de pedra, circulares, manuais, de diferentes tamanhos e tipos são actualmente peças decorativas; dos movidos por animais, as primitivas e curiosas atafonas, só se encontram restos em Porto Santo; das azenhas, há muito poucas a funcionarem na Madeira; e dos moinhos-de-vento, peculiares do Porto Santo e tão graciosos, restam poucos e a grande maioria não funciona (estando até alguns aproveitados para outros fins).

Normalmente, no Arquipélago, durante a cultura do trigo não são efectuados quaisquer tratamentos fitossanitários, apesar da presença habitual dalguns inimigos deste cereal. De entre os fungos, os mais comuns são a “ferrugem” nas folhas e o morrão nos grãos embora, por vezes, surjam também ataques de oídio ou “cinzeiro” na folhagem, fusariose nas raízes e “fungão” ou cárie nos grãos. E, de entre os insectos, acontece, nalguns anos menos chuvosos e mais quentes, aparecerem ataques de “piolhos”ou “pulgões”, sobretudo na fase do espigamento.

Quando as espigas estão na fase do amadurecimento, até à colheita, acontece por vezes surgirem alguns pássaros (como os pardais) que podem causar grandes prejuízos. A utilização de meios químicos não deve ser praticada, mas é imprescindível o uso de métodos físicos e mecânicos para os afugentar.

Mas, as maiores pragas do trigo atacam principalmente durante o armazenamento ou é nesta fase que surgem com maior intensidade. Assim sucede com o “gorgulho-dos-cereais” e com as “traças- doscereais” que causam grandes prejuízos nos grãos e com a “traça-dafarinha”, que aparece sobretudo depois da moenda dos cereais.

Também os ratos e os murganhos são inimigos poderosos no trigo armazenado, razão por que haverá que cuidar devidamente dos locais da sua guarda e conservação e do uso de raticidas.

Para a defesa da cultura do trigo e da boa conservação dos cereais deve o agricultor recorrer sempre ao adequado aconselhamento técnico, não só para a melhor escolha dos pesticidas a usar, como também aos modos e alturas de aplicação dos produtos e, até, dos cuidados a ter com a manipulação e guarda desses produtos. Um tratamento, que já é feito por alguns e que nunca deve faltar, é a desinfecção do cereal que é guardado para ser semeado na altura oportuna. Há que defender essa semente, logo depois de bem seca, com polvilhações de pesticidas que previnam os futuros ataques do “gorgulho” e da cárie ou “fungão” (que mais tarde pode aparecer nas searas), os quais chegam, nalguns anos, a inutilizar grande parte das colheitas.

Como há algumas doenças de difícil cura (o morrão, por exemplo), é útil destruir pelo fogo as plantas que apresentem sintomas desta doença nas espigas (ou seja os grãos transformados num pó negro).

As plantas infestantes da cultura do trigo devem também ser destruídas, sobretudo se aparecerem em grande número ou com grande intensidade. Neste aspecto, poderá actuar-se preventivamente, fazendo-se a aplicação dos herbicidas próprios no período de pré-sementeira, se possível quando se realiza (ou deve realizar) a correcção e a fertilização de fundo dos terrenos de cultivo.

Embora o trigo não esteja em fase de expansão no Arquipélago, importa cuidar devidamente do seu rendimento e por isso há que não descurar as boas práticas culturais – correcção e fertilização dos terrenos, luta contra as plantas invasoras e contra os parasitas, adequados locais de armazenamento, boa secagem, conservação e desinfecção das sementes – para que as colheitas sejam abundantes e os grãos de melhor qualidade.

A importação de trigo, durante tantos anos, de diferentes e, por vezes, longínquas paragens e a utilização dalguma dessa semente pelos agricultores nos seus terrenos, por muitos anos, também com o seu aproveitamento mais ou menos continuado, de ano para ano, contribuiu para que esta planta tenha no Arquipélago, um certo número de cultivares muito antigas, algumas das quais se podem considerar como regionais e que, portanto, já se não encontram em mais nenhuma parte do Mundo. Com o andar dos tempos e o abandono de muitos terrenos agricultados, alguma dessa riqueza vegetal tem-se vindo a perder mas ainda há cultivares do maior interesse agrícola, alimentar, genético, cultural ou outro a preservar.
O trigo constitui um alimento valioso, dado que os grãos contêm grande percentagem de glúcidos (geralmente entre 70 e 75%) e prótidos (cerca de 12%); possuem, ainda, cerca de 2% de lípidos e, aproximadamente, a mesma quantidade de sais minerais (sobretudo, potássio, fósforo e cálcio) e de celulose. O gérmen do trigo tem, ainda, uma composição mais equilibrada, com bastante menos glúcidos (cerca de 45%) mas muito mais prótidos (cerca de 25%) e lípidos (até mais de 10%), além de apreciáveis quantidades de minerais principais, oligoelementos e vitaminas (do complexo B, P e E).

Também, na medicina popular, o trigo é considerado como tendo propriedades remineralizantes, sendo utilizado para combater a anemia. Também se usa a farinha ou o farelo de trigo com água e açúcar como laxativo e as cataplasmas de farinha de trigo em substituição da linhaça.

Apesar de planta herbácea e anual, bastante divulgada e conhecida em todo o Mundo, nas suas várias formas botânicas cultivadas, considera-se necessário acrescentar algumas notas complementares, sobretudo no que respeita à sua nomenclatura científica. Pertencendo ao género Triticum L., da família das Gramíneas ou Poáceas, dele dizem J. Amaral Franco e M. L. Rocha Afonso (in “Nova Flora de Portugal”, Vol. III, fasc. II, 1998) ser “particularmente estudado devido à sua importância económica”, consistindo “numa série poliplóide na qual existem representantes diplóides, tetraplóides e hexaplóides com números cromossómicos 14,28 e 42. O T. durum Desf. com genoma 2n=28 e o T. aestivum L. com genoma 2n=42 são as duas espécies mais cultivadas em Portugal, representadas por numerosas cultivares”.

Por sua vez, o botânico T. A. Cope, na “Flora of Madeira” (ed. por J. R. Press & M. J. Short, 1994) refere o cultivo, no arquipélago madeirense, de 3 espécies de trigo: Triticum aestivum L., T. compactum Host. e T. turgidum L.

Nestas notas e de acordo com a orientação seguida pelo Centro de Estudos da Macaronésia, da UMa, optou-se por outra classificação – a de Van Slageren, de 1994 – mantendo, das espécies citadas, o T. aestivum, a que pertencem os chamados trigos moles, onde se englobam duas subespécies – T. aestivum L. subsp. aestivum e T. aestivum L. subsp. compactum (Host.) Mackey – e a espécie Triticum turgidum L., a que pertencem os chamados trigos duros, com duas subespécies – T. turgidum L. subsp. turgidum e T. turgidum L. subsp. durum (Desf.) Husnot. Várias particularidades distinguem as espécies e subespécies do trigo ligadas, sobretudo, a pormenores das flores e das espigas mas as que mais interessam, como cereal alimentar, estão associadas aos frutos ou grãos, uma vez que nos trigos moles, os frutos (cariopse) são elipsóides e pouco rígidos (destinando-se a farinhas para panificação) e nos trigos duros, os frutos (cariopse) são pontiagudos e muito rígidos (destinando-se ao fabrico de massas alimentícias e bolachas).

Num passado próximo, as referências às espécies e cultivares de trigo, no que respeita à Madeira, são as que constam do apontamento que em seguida se põe em evidência.

No “Elucidário Madeirense”, 1921, referem-se duas espécies de trigo cultivadas no arquipélago da Madeira: Triticum aestivum e Triticum polonicum, aquela muito vulgar “em todas as freguesias” e esta “pouco cultivada, só existindo na freguesia do Caniço”. E diz que, na espécie T. aestivum, “distinguem-se três tipos ou sub-espécies: o trigo molar, o túrgido e o rijo, sendo o primeiro caracterizado pela cariopse mediana, com quebradura farinosa e o colmo completamente ôco, o segundo, pela cariopse grande e grossa, semitenra, e o colmo só parcialmente ôco e o terceiro, pela cariopse dura, com quebradura rija, e o colmo completamente meduloso”.

Quanto ao T. polonicum, lê-se, na mesma obra, que é “caracterizado pelas cariopses muito compridas e estreitas, com quebradura rija e pelas glumas alongadas”. Saliente-se que esta espécie, talvez a partir dos fins do primeiro quartel do século XX, nunca mais foi assinalada na Madeira.

Dos trigos molares (hoje mais conhecidos por trigos moles), citam-se no “Elucidário Madeirense” as seguintes “variedades ou sub-raças cultivadas no Arquipélago”: ‘Barbela’ (ou ‘Do mato’ e ‘Da serra’), ‘Rieti’, ‘Canoco barbudo’, ‘Anafil’ (ou ‘Português’), ‘Palha-roxa’ (ou ‘Mouro’), ‘Mangalhão’, ‘Mocho’ (ou ‘Rapadinho’, ‘Pelado’, ‘Rapado’ e ‘Sem-vergonha’), ‘Canoco’ (ou ‘Pelado’, ‘Rapado’, ‘Anafil’ e ‘Canoquinho’), ‘Canhoto’ (ou ‘Canoco pelado’) e ‘Americano’. Dos túrgidos, enumeram-se apenas os seguintes: ‘Alexandre’, ‘Branco nº1’ (ou ‘Ganil’) e ‘Branco nº2’. Dos rijos (hoje mais conhecidos por trigos duros) mencionam-se ‘Vermelho’ (ou ‘Russo’), ‘Amarelo’ (ou ‘Campanário’, ‘Russo’, ‘Anafil’ e ‘Tangarola’), ‘De cabeça preta’ e ‘Branco’.

Mas, em 1912, o Engº Agrónomo Fraga Gomes, na sua “Monografia da freguesia de Câmara de Lobos”, citava, entre as cultivares aí utilizadas, as 4 seguintes, como mais frequentes: ‘Alexandre-branco’, ‘Alexandre-vermelho’, ‘Canôco’ e ‘Barbela’.

O Padre Eduardo Pereira (in “Ilhas de Zargo”, 2ª edição, 1956) fala das mesmas cultivares citadas no “Elucidário Madeirense” e acrescenta outras, algumas das quais muito conhecidas por serem ou trigos italianos ou trigos portugueses: ‘Mentana’, ‘Quaderna’, ‘Roma’,‘Pirana’, ‘Tevere’, ‘Autonomia’, ‘Damaia’ e, ainda, Galhoto’,‘Raposinho’, ‘Argentino’, ‘Canavial’, ‘Porto Santo’ e ‘Rabicho’. E afirma que foi “o trigo anafil, também chamado trigo português ou trigo pelado, o primeiro que mandou dar à terra o Infante D. Henrique”.

Ainda no “Elucidário Madeirense”, estão transcritas informações do botânico Carlos Azevedo de Menezes nas quais, citando um trabalho dos professores Ferreira Lapa e Andrade Corvo sobre tipos de variedades portuguesas de trigo em que se apontam 3 peculiares do Arquipélago (trigo môcho, trigo portuguez e trigo Alexandre), conclui que, após exame feito em 1904 e 1905 sobre várias amostras deste cereal, produzidas em diversos pontos da Madeira, “o número das variedades existentes n’esta ilha é superior ao das que foram estudadas pelos referidos professores verificando mais que alguns dos antigos typos, embora semelhantes a certos typos portuguezes, dos quais talvez provenham, se afastam d’elles, todavia, por caracteres dignos de nota”.

Rui Vieira, Engenheiro Agrónomo (2006)

Bibliografia citada:

Câmara Municipal do Porto Santo, “Anais do Município do Porto Santo”, Porto Santo, 1989

COPE.T.A. “Flora of Madeira”, J. R. Press & M. J. Short, London, 1994

FRAGA GOMES, “Monografia sobre Câmara de Lobos”, 1912

FRANCO, J. Amaral e AFONSO, M. L. Rocha, “Nova Flora de Portugal - Vol. III, fasc.
II”, 1998.

GODINHO, Magalhães, “Os descobrimentos e a Economia Mundial”, 1965

PEREIRA, Eduardo, “Ilhas de Zargo”, 2ª edição, 1956

“Recenseamento Geral da Agricultura”, Direcção regional de estatística da Madeira,

1999

SILVA, Padre Fernando Augusto da, e Menezes. Carlos Azevedo, «Elucidário

Madeirense», I Volume, 2ª Edição, 1940.